À I.G.A.CULTURAIS

À I.G.A.CULTURAIS

Carlos Patrício Álvares

Rua Capitão Humberto de

Ataíde, nº 1 – 3ºfrente

1170-071

 

                                                                                                         Lisboa,  20 de Junho de 2011

 

Exmos. Senhores

Normalmente, uma exposição do género da que apresento, tem sempre resposta. Tenho aguardado pacientemente que tal se concretize. 

Todavia decorreu já um tempo anormalmente lato, sem que tal suceda. Conhecedor da atenção que a IGAC dispensa aos assuntos que lhe são apresentados, sou levado a pensar ter-se extraviado a correspondência que enviada. Por essa razão envio-a novamente.

Por considerar oportuno, junto um segundo texto, este atual, abordando o mesmo tema, que servirá para corroborar a razão que assiste ao primeiro.

 

           À INSPEÇÃO GERAL DAS ACTIVIDADES CULTURAIS

DE: Carlos Patrício Álvares, co-fundador do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa ; autor de três livros acerca de forcados -"Pega de Caras" dedicado ao G.F. de Lisboa, "Sustos, Percalços e Valentias", episódios passados com forcados, "À Unha! Os Forcados", o primeiro livro a ser editado abordando detalhadamente o percurso do Forcado e abrangendo todos os grupos existentes ou que existiram até 1998. 

Colaborador em jornais e revistas, escrevendo sobre forcados. Ideólogo do projeto de construção de um monumento ao Forcado em Lisboa, sendo membro da Comissão Executiva que se formou para o efeito.

Esta exaustiva identificação para se poder avaliar bem o apreço que tenho pelo Forcado. A esperançosa satisfação que tive quando se formou a Associação Nacional de Grupos de Forcados.

Igual perspectiva deve ter tido a IGAC que, confiadamente, apoiou a iniciativa. Mas nada aconteceu como se esperava. 

Começou por se formar um núcleo duro, constituído por doze grupos, digamos, o G-12 da forcadagem, que tem grande preponderância dentro da ANGF.

Uma Assembleia Geral recusou uma proposta apresentada por grupos não pertencentes a esta “elite”. Não valia a pena ter-se realizado. Os do G-12, acautelando o chumbo, haviam celebrado um pacto de honra, que os punha fora da votação prevista.

Quer dizer, votação que suspeitem não estar de acordo com as suas propostas ou ideias, arranjam forma de, democraticamente, a inviabilizar.

Grupo pertencente à ANGF que pegue com outro não associado, é expulso. Também o empresário responsável por este espectáculo, leva veto.

No entanto, segundo consta e se tem visto, se a algum dos que compõem o G12, interessar que se levante o veto ao empresário, abre-se uma exceção e o caso fica resolvido. 

Numa corrida de beneficência, um grupo cujo Cabo, por razões particulares, tem mau relacionamento com um dos dirigentes da ANGF foi, de forma prepotente e arbitrária, expulso da ANGF, por receber menos do que está tabelado.

Isto, segundo me informaram, sem receber qualquer nota de culpa e sem se saber se tinha sido, ou não, deliberação tomada em Assembleia Geral.

De nada valeu ao grupo invocar que fizera isso por se tratar de uma corrida de beneficência. O grupo apenas foi readmitido ao fim de seis ou sete anos. Por "coincidência", (ou não…) só após ter saído de Cabo, o elemento que tinha mau relacionamento com o referido dirigente.

O apoio feito a um livro sobre forcados é de louvar e a obra e o Autor merecem tal distinção. Estranho é que no agradecimento do Autor, seja o nome do presidente  da  ANGF  que  vem em destaque. O apoio não foi decidido por todos? Não foi decisão tomada em A.G? Ou o subsídio concedido foi decisão pessoal? Isto não devia ser explicado aos grupos que descontam para a ANGF? É que, afinal, o dinheiro que a ANGF movimenta é deles. Não do presidente.

Grupos não associados são "obrigados" a ir a Espanha para satisfazer a sua aficion à pega. A ANGF, não hesita. Envia para Espanha mensagens desacreditando esses grupos. 

A Comissão que anda tratando de erguer um monumento ao Forcado mandou para a ANGF e para todos os grupos de forcados no activo, um pedido de colaboração. De forma arrogante e malcriada, não obteve qualquer resposta.

Quanto aos grupos não terem respondido, estamos  convencidos  que foi com receio das represálias, dos vetos e das expulsões em que a ANGF é pródiga.

Numa querela existente entre a ANGF e um jornal, em nome da Direção foi emitido um comunicado prejudicial a esse jornal. Li que dois dirigentes da ANGF se demarcaram do comunicado, dizendo não o terem assinado. Quer dizer, ou os dois dirigentes referidos mentiram, ou tratou-se de um abuso de confiança.

Consta ainda que a ANGF, porque no festival que o jornal organizou, determinado grupo esteve representado por dois ou três elementos, se prepara para o expulsar.

Dizem que havia mais dois grupos representados de forma idêntica. Nenhum deles teve ameaça de expulsão. Possivelmente por pertencerem a algum grupo do G12, os forcados que colaboraram no festival. 

Toda esta atividade faz a ANGF esquecer promessas feitas da maior importância. A principal, a imposição das bandarilhas à espanhola.

Ainda recentemente um forcado ficou gravemente ferido numa vista devido a uma bandarilha.

Seria bom, dada a dificuldade que os grupos têm de, isoladamente, fazerem o seguro a que são obrigados a ANGF, responsabilizar-se por um seguro coletivo. Beneficiados por ele, todos os grupos de forcados nela filiados. 

 Também é estranho que a ANGF, com nove anos de existência, não tenha ainda sede própria. Isto apesar de todos os anos haver uma média de trezentos espectáculos com, pelo menos, dois grupos de forcados cada um deles, entregando à ANGF, 1.250 Euros por corrida.

Ao analisar, por alto, toda esta situação, encontrei certa analogia com um conhecido conto que li em criança.

Falava de um Rei que só se apercebeu  que não ia vestido como o esperto alfaiate dizia, quando um garoto atrevido proferiu a frase que ninguém se arriscava a proferir: "O REI VAI NU!".

 Era bom que este longo desabafo embora feito por um “velho” aficionado que aprecia e respeita o FORCADO, fizesse também a IGAC tomar real conhecimento do que se passa.

Respeitosamente

Carlos Patrício Álvares (Chaubet)