FORCADOS E PEGADORES

FORCADOS E PEGADORES

     F O R C A D O S  E  P E G A D O R E S

 Posso quase dizer que sou do início do Forcado Amador. Pelo menos desde que tomou o caráter de continuidade que hoje tem. Estudei e tenho seguido todo o seu percurso.

A pega de toiros começou a ser praticada de modo, digamos, artesanal, pelos moços de lavoura que acompanhavam os patrões quando estes iam lidar toiros. Para os  auxiliar e defender, levavam a espécie de cajado que utilizavam nas suas fainas agrícolas e a que davam o nome de forcado.

Não tendo cavalos mas tendo a mesma apetência pelo perigo que os cavaleiros, pediram a estes se podiam enfrentar os toiros a corpo limpo.

Tiveram o consentimento dos empregadores, possivelmente por duvidarem que os seus empregados tivessem êxito em tão temerária pretensão.

A sua audácia começou a dar nas vistas e o que tinha sido motivado por um desejo de auto valorização passou a ser, também, uma fonte de rendimento, pois após as suas exibições, de barrete na mão, pediam à assistência que os compensasse. Nasceu assim o forcado profissional. Ganharam popularidade. Tornaram-se imprescindíveis. Em todos os espetáculos, como agora, o público pedia a atuação dos “homens do forcado”. Tal não agradou aos seus amos. 

Vendo o seu prestígio ameaçado, resolveram mostrar serem capazes de fazerem o mesmo que os seus subordinados e sem pedir nada em troca.

Estava encontrado o forcado amador. 

Pegando com mais arte e espetáculo, com uma aceitação social diferente, acabou por aglutinar os grupos de forcados profissionais existentes. Passaram a ser todos amadores. Deixou de haver classes sociais a dividirem forcados. A burguesia assimilou-as. (o que não foi tão benéfico como se pode pensar – antes pelo contrário…)  

Esta pequena dissertação só para se poder avaliar melhor a evolução positiva que o forcado teve e o declínio que vão sofrendo os seus valores tradicionais. A perda de alguns deles. 

Na minha ótica, Forcado Amador é aquele que não tira qualquer proveito do seu acto. O que verdadeiramente lhe interessa  é  o  sentir-se  bem  consigo próprio. A adrenalina em ebulição. Verificar que consegue fazer sem qualquer estímulo do exterior ou ideia de compensação, o que muitos só fazem a troco de dinheiro ou para, de algum modo, tirar partido. 

Pegador de Toiros, é o que veste a farda de forcado, para alcançar objetivos: sair do anonimato; ir de um viver cinzento para a ribalta; para não ficar atrás dos amigos; porque se tornou moda; por a prática de tal modalidade, ser propiciadora de bons contactos sociais. Inclusive, para conseguir um bom casamento. 

Ora a internet, se aos primeiros não trouxe qualquer benefício especial, já para os segundos, foi a muleta ideal para a concretização de um sonho. 

Dá-lhes oportunidade de reviver e ampliar os feitos que tenham realizado, multiplicando-os ao exibirem, individualmente, vários aspetos da mesma pega.

Depois, “forcados”/cibernautas, aproveitam as possibilidades e visibilidade que a internet lhes dá, para se permitirem dar opinião sobre a atuação de intérpretes da Arte de Pegar Toiros. Alguns com comportamento muito superior ao que eles tiveram quando andaram a fazer o mesmo. 

Juntam-se em Associações que tendo o lado positivo de criar união entre os elementos que as formam, têm a parte negativa de lhes tirar a espontaneidade e irreverência que caraterizava o Forcado. 

Havia sem dúvida coisas negativas que, por vezes, se faziam. Todavia não havia maldade. Eram fruto de momentos vividos com a intensidade da juventude. Impelidas por um incontrolável desejo de liberdade. De viver o momento em toda a sua plenitude, sem olhar a preconceitos e dogmas.

Vivência que lhes foi coartada pelo pretensiosismo, pelo parece mal e, sobretudo, pelo avançar da idade. Agora é com saudade que são recordadas. Mesmo as que foram passíveis de censura. Todas elas representam vida, vivida. Um tempo que já nãovolta nem se repete.

Os grupos mais representativos criaram até uma associação para controlar as outras que se vão formando. Era  suposto (estatutariamente), tratar todos os grupos por igual. Mas como tal não tem acontecido, até já houve (ou há) uma tentativa de formar outra associação.

Esta parece só servir os 14 ou 15 grupos que, dada a inércia dos outros trinta ou mais grupos, fazem o que querem.

Em resumo, um ambiente actual, moderno, diferente daquele que vivi. 

Mas enfim! Oomo já tenho dito, sou passado e o tempo não volta para trás. Vou tentando adaptar-me aos novos tempos. Porém, para quem viveu (e vive) a pega e o Forcado como eu, é um tanto difícil a  adaptação. 

Carlos Patrício Álvares (Chaubet)